O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse nesta segunda-feira (5) que o Brasil vai colaborar mas não quer dividir igualmente a conta de uma crise climática causada, em maior parte, por economias desenvolvidas.
Ao participar de uma live sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia transmitida pela FGV (Fundação Getulio Vargas), Salles afirmou que o problema climático não foi criado e agravado pelo Brasil, um país que era “eminentemente agrícola” durante o processo de industrialização das economias desenvolvidas.
“No saldo acumulado de gases de efeito estufa na atmosfera, o Brasil tem participação próxima de zero”, comentou o ministro, acrescentando que, se considerado o fluxo atual de emissões, o Brasil participa de 3%, muito menos do que as emissões de China (30%), Estados Unidos (15%), Europa (14%) e Índia (7%)
Segundo Salles, o ponto de partida não deve ser, então, igual para todos. “Não pode ser partimos do zero, está todo mundo igual. O Brasil não pode aceitar essa condição. […] Vamos colaborar, mas precisamos colocar a questão em perspectiva. Não temos que estar nivelados.”
De acordo com Salles, o Brasil não deve assumir metas de cortes de emissões mais apertadas do que as aplicadas a países que contribuíram mais às mudanças climáticas. “Não participamos da degradação dos gases de efeito estufa, não partilhem essa conta conosco”, comentou o ministro do Meio Ambiente.
Amazônia
Criticado pelas queimadas na Amazônia, que prejudicam a imagem do Brasil no exterior, Salles defendeu que o combate ao desmatamento ilegal deve ser baseado não apenas em fiscalização e controle de atividades na região, mas também em incentivos econômicos, de modo a melhorar o padrão de vida da população do bioma.
Na avaliação do ministro, embora esteja na região mais rica em recursos naturais, a população da região amazônica vive com o pior índice de desenvolvimento humano do País, o que, segundo ele, representa um convide à ilegalidade.
“Está sentado sobre uma reserva de ouro e não pode garimpar, está em frente a uma arvore que não pode cortar, está do lado de determinado recurso natural que não pode explorar. […] É óbvio que a pessoa vai ser cooptada por garimpo ilegal, roubo de madeira, grilagem. […] Se não dermos alternativa, ela vai acabar participando disso”, afirmou.
Segundo Salles, a fiscalização, sozinha, não vai resolver o problema do desmatamento se, como observou, as pessoas não forem colocadas no centro da discussão.
A exemplo do que já havia feito em entrevista publicada no sábado pelo Estadão/Broadcast, o ministro voltou a colocar o pagamento de bilhões de dólares em crédito de carbono por países desenvolvidos como o caminho para combater o desmatamento.
Sobre o tema, apresentou contas que estimam em US$ 133 bilhões o valor não pago por aproximadamente 7,8 bilhões de toneladas de dióxido de carbono que deixam de ser lançadas na atmosfera em razão do Cerrado e da Amazônia brasileira.
“O Brasil já fez esse trabalho e não recebeu por isso. A luta por monetizar o Acordo de Paris e o mercado de carbono é para ter recursos para cuidar da floresta e das pessoas, colocar as pessoas no centro da discussão”, disse Salles, reforçando que tais recursos, ao serem usados em áreas como saneamento e saúde, além de permitirem ganhos de renda à população, evitará que as pessoas sejam cooptadas pela ilegalidade, ao mesmo tempo em que podem financiar a fiscalização de atividades ilegais na Amazônia.
R7