Adaptação é a palavra de ordem para quem tem restrição alimentar. A vida não precisa se tornar um limbo insosso pós diagnóstico de diabetes, hipertensão, intolerância a glúten, lactose e por aí vai…
É claro que uma pessoa que, por exemplo, está com o colesterol alto e continua associando fim de semana à picanha e não dispensa um pão com muita manteiga e um copão de leite integral no café da manhã terá problemas sérios, mas se ela abrir espaço para um refogado de shitake e para o pão integral com manteiga de coco ou azeite de oliva (receita no fim deste artigo) e uma vitamina com leite de amêndoas ou aveia pode estar fazendo as pazes entre duas coisas que começam com a mesma letra e deveriam andar sempre juntas: sabor e saúde.
Como encontrar a solução? Indo atrás de informação. O profissional de saúde que cuida do seu caso é apenas a pessoa que inicia este processo. Para quem tem a possibilidade, também é indicado consultar um nutricionista. O passo seguinte é garimpar receitas para não cair na mesmice. A internet é uma ferramenta e tanto para pesquisar. Quem não tem muita prática na cozinha primeiro procura o passo a passo de comidinhas diferentes, mas as substituições e até a criação de suas próprias receitas virão com o tempo.
Alguns inconvenientes das restrições são o preço dos ingredientes prontos, “leites” vegetais e leite condensado diet, por exemplo, são bem caros, e os trabalhinhos extras na preparação das matérias primas de alguns pratos. Eu reconheço que é muito mais fácil abrir um potinho e derramar um molho de tomate pronto do que escaldar o tomate, retirar a polpa e cozinha-la com cebola, mas o resultado em termo de sabor e saúde é incomparável, mesmo que isso signifique fazer as preparações no fim de semana ou tarde da noite. É uma questão de prós e contras – deixar a preguiça de lado para comer de maneira saudável e saborosa ou correr o risco de ficar cada vez mais doente. Planejando direitinho entra na rotina e dá super certo.
Eu tenho experiências pontuais da época em que fui vegetariana e também de quando restringi o consumo da lactose e do açúcar. Os bons hábitos destas épocas permanecem até hoje. Investi em boas panelas para grelhar de verdade, sem nem uma gotinha de gordura, fui aos poucos eliminando o doce do café e sucos, inclusive o de limão, e agora acho delicioso sentir o gosto real dos alimentos.
Garanto que esta é uma alternativa menos calórica do que usar mel ou açúcar demerara e mais saudável do que os adoçantes dietéticos. Eles fazem mal para a saúde e ainda possuem um gosto metálico muito desagradável.
As mudanças também englobam adotar durante um dia da semana o almoço veggie (estrogonofe de couve flor, feijoada, yakisoba, quibe ou cozido vegetariano, bobó de brócolis e por aí vai), fazer em casa pães, molhos, leites/ extratos de aveia e arroz e abusar do leite de côco natural, e até da água, na massa de panquecas, purês, pães, bolos, etc..
Uma alternativa para quem não dispensa um doce é ao invés de devorar tudo o que vê pela frente na rua também fazer em casa receitas à base de frutas ou com cacau em pó/ chocolate 100%. Dá para reduzir o açúcar nas preparações em pelo menos 30% e ainda substitui-lo pela frutose com ótimos resultados. Depois é só segurar a ansiedade e comer aos poucos. Neste ponto a terapia, a atividade física e a meditação podem fazer maravilhas porque por mais deliciosa que a comida seja a relação com ela precisa ser saudável. Quantidade e qualidade podem (e devem) se dissociar. O ganho para o paladar neste caso também é grande.
O último ponto que quero abordar é relacionado aos produtos diets. Eles não são para quem está de dieta e sim para quem tem restrições alimentares. O problema é que a indústria alimentícia também não colabora já que usa a nomenclatura indiscriminadamente como estratégia de marketing. Por definição dietética, o pessoal da perda de peso deveria ir atrás do que é light (tem menos caloria) e ficar atento que há produtos diets, a exemplo do que é destinado para os diabéticos, que têm mais calorias do que a versão tradicional. A aparente contradição neste caso específico acontece porque para conseguir a consistência e o brilho dado pelo açúcar retirado é preciso abusar da gordura, que é mais calórica do que o carboidrato.
É claro que com tanto detalhe fica mais desafiador fazer receitas gostosas. Na minha concepção, comida boa se faz com técnica e bons ingredientes, então com prática dá para cozinhar receitas incríveis para quem tem restrições, afinal comida insossa e mal feita é um castigo que ninguém merece. Lembre-se que sabor, ao contrário do que te disseram a vida toda, não vem do excesso de sal, gordura e açúcar.
Uma boa prova disso é que todos os doces que ilustram este artigo são diets ou lights e além de vistosos estavam muito gostosos. Sim, eu sei porque tive que, além de fazê-los, prova-los para te garantir que dá para ter restrições e continuar sendo feliz para sempre à mesa, desde que você coloque a mão na massa ou encontre uma alma caridosa que esteja disposta a fazer isso por você.
Receita da manteiga de azeite
50 ml de azeite de oliva extra virgem
1 punhado da ervas frescas de sua preferência bem picadinhas (hortelã, manjericão, salsa, coentro… – sendo um por vez ou combinados)
– Misture tudo, coloque em mini forminhas (dá para usar 1/4 da medida de cada cuba de gelo) e leve para congelar. Substitua a manteiga quando comer raízes, tubérculos, pães e tapiocas. É só espalhar a manteiguinha congelada por cima da superfície do alimento morna e se deliciar.
Segredo dos doces diets – apostar no ingrediente que dividiria os louros da preparação com o açúcar. Exemplo: musse com muito maracujá (6 a 8 unidades para um leite condensado diet, não vale suco pronto) para ficar azedinho e bolo de chocolate diet com um bom cacau em pó (sem nenhum graminha de açúcar) para dar o contraste amargo que disfarça o sabor estranho do adoçante.
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Larissa Ramos é professora e jornalista