Pratos como xinxim, sarapatel, caruru, rabada imediatamente remetem à culinária baiana. Fazem parte também da história do Estado e do País, de um tempo em que os negros escravizados nas senzalas tiveram que incrementar os alimentos que eram sobra da Casa Grande. Provavelmente, a primeira experiência gourmet em terras brasileiras. O preparo dessas iguarias faz parte dos ensinamentos que estão sendo levados pelo babalorixá Roberto Santana, mais conhecido como Pai Roberto, que já realizou o curso gastronômico internacional Onjé Darugbô (comida ancestral) Cozinha Itinerante em Conceição do Coité, Itaberaba, Jequié e Itacaré. Outras seis cidades estão agendadas: Itambé (no próximo dia 24/4), Bonfim (9/05), São Francisco do Conde, Manoel Vitorino, Camamu e Dias D’Ávila.
As oficinas fazem parte do projeto, que foi selecionado nos Editais Setoriais 2016, do Fundo de Cultura da Bahia (Secretarias da Fazenda e da Cultura) e as vagas estão sendo disputadíssimas, já que reúnem apenas 25 pessoas. “Foi surpreendente o que aconteceu em Itacaré; não tivemos como acrescentar mais alunos”, conta Pai Roberto. Na cidade, o curso foi realizado em espaço comunitário dentro de um quilombo urbano, no Porto de Trás, o que valorizou ainda mais a questão da ancestralidade ligada ao preparo dos pratos. A Prefeitura de Itacaré apoiou o evento.
A procura tem sido tão grande, segundo Pai Roberto, que ele já está agendando levar o curso para outras cidades, ampliando o projeto. “Muita gente tem ligado. Nosso planejamento foi para realizarmos o curso em 10 cidades, mas certamente vamos continuar com esse trabalho em outros municípios, com o apoio de empresários e prefeituras”. Ele ensina o preparo de 12 pratos, incluindo roupa velha, mugunzá, efó, farofa d’água, rabada, feijoada, galinha de molho pardo, quiabada e carne seca com pirão de leite.
O público alvo, segundo Pai Roberto são os povos tradicionais (Terreiro de Candomblé, quilombola, periferias e/ou zona rural do município), merendeiras de escolas públicas e empreendedores da gastronomia alternativa. “já tínhamos a experiência em outros estados e mesmo fora do Brasil, faltava interiorizar o curso e os Editais Setoriais 2016 garantiram essa oportunidade. Inscrevemos o projeto no setorial de Formação e Qualificação e em dezembro já obtivemos a resposta positiva e colocamos em prática”.
O superintendente de Promoção Cultural da SecultBA, Alexandre Simões destaca a importância do Fundo de Cultura da Bahia para a preservação das tradições culturais baianas e brasileiras. “Entre as linhas dos Editais Setoriais 2016 foi destacado espaço para Culturas Populares, Economia Criativa, Grupos e Coletivos Culturais, Territórios Culturais, Circo, Culturas Identitárias e Populares, promovendo a cultura popular e o que de melhor se faz na Bahia”.
O projeto
O projeto “Onjé Darugbô, cozinha ancestral itinerante” visa perpetuar e difundir saberes e tradições da matriz africana. A iniciativa vai promover a qualificação em gastronomia étnica e sua inserção na economia criativa e dá continuidade a uma iniciativa da Associação Civil Filhos de Bárbara de promoção da cultura ancestral negra na Bahia, que teve início com o documentário “Onjé Darugbô, comida ancestral.
O programa integrado de curso será realizado em 10 territórios e é composto por dez oficinas com carga horária de 30 horas para 25 beneficiários, especialmente chefes, cozinheiros, donos de restaurantes e autônomos que irão obter uma certificação para qualificá-los em cozinha ancestral étnica e organização de festas e eventos.
A oficina consiste em aula teórica sobre senzalas da Bahia e do Brasil colônia e império e as condições culinárias da época. O foco principal são os dos 12 pratos apresentados no documentário.
Os cursos serão realizados nos territórios de Piemonte do Paraguaçu (Itaberaba), Sisal (Conceição do Coité), Litoral Sul (Ilhéus), Litoral Norte e Agreste Baiano (Conde), Vitória da Conquista (Vitória da Conquista), Piemonte Norte do Itapicuru (Senhor do Bonfim), Bacia do Rio Grande (Barreiras), Sertão do São Francisco (Juazeiro), Médio Rio de Contas (Jequié), Irecê (Irecê).